A aranha que se sacrífica e vira alimento da própria ninhada

A ‘Stegodyphus lineatus’ é uma espécie de aranha que vive em regiões semiáridas da Europa e no deserto de Neguev, ao sul de Israel, e é conhecida por dar a vida, literalmente, pela sua prole.

Após o acasalamento, a fêmea desenvolve um saco carregado de ovos e tece uma toca circular, parecida com um ninho de passarinho, onde ela passará o restante dos seus dias junto aos futuros filhotes.

Os ovos são depositados no fundo de sua nova casa e, após eclodirem, a mãe regurgita um líquido nutritivo para os filhotes composto por restos de alimentos que ingeriu e por partes de suas próprias entranhas. No processo, ela perde cerca de 40% do seu peso total e morre.

Contudo, após a morte, a mãe ainda desenvolve papel crucial para alimentação dos filhotes. Isso porque ela própria vira o alimento de suas crias. Os filhotes sugam o restante dos fluidos corporais da mãe, até que cerca de 95% desse aracnídeo seja consumido, sobrando apenas algo semelhante a uma casca.

Mor Salomon é uma bióloga que foi responsável por uma pesquisa mais aprofundada desta espécie. Em seu artigo “Maternal investment in a spider with suicidal maternal care, Stegodyphus lineatus (Araneae, Eresidae)” ela mostra que o corpo das mamães aranhas desta espécie começa a se preparar com antecedência para essa experiência única de maternidade. O tecido de seu abdómen, por exemplo, vai se quebrando ainda durante a gestação, facilitando a alimentação dos filhotes posteriormente.

Outra característica desta espécie é que os machos costumam invadir os ninhos. Eles tendem a exterminar os filhotes para acasalar com a fêmea e garantir sua própria ninhada, num comportamento parecido com o dos leões. O processo deve acontecer antes que a fêmea dissolva seus ovários e outros órgãos importantes.

Segundo Salomon, a aranha que se sacrifica pela prole também garante a perpetuação da espécie, uma vez que, apesar de estranho, o comportamento é essencial para a sobrevivência dos filhotes no clima severo da região em que habitam.