Mesmo os melhores cérebros têm memórias imperfeitas. Muitas vezes esquecemos as coisas, e muitas pessoas ainda podem ter a falsa impressão de se lembrar de coisas que não aconteceram, o que é conhecido como falsas memórias. Enquanto sabemos que é possível implantar essas “lembranças fabricadas” em nossas mentes simplesmente através da sugestão de pensamentos, os cientistas estão agora a começando a demonstrar que também é possível fazer isso com a ajuda de tecnologia sofisticada, embora em animais, não humanos.

Camundongo dormindo
(Foto/Reprodução: Hattie Spray/PA/The Guardian)

 

 

De acordo com informações do periódico americano The Guardian, apenas no ano passado, por exemplo, os pesquisadores conseguiram fazer camundongos erroneamente associar um ambiente com uma experiência desagradável de um lugar diferente usando uma combinação da edição gene e estímulo de luz das células cerebrais.

Agora, tendo um passo adiante, pesquisadores do Centro Nacional francês de Pesquisa Científica dizem ter implantado com sucesso memórias artificiais nas mentes dos ratos dormindo, uma primeira vez para a neurociência. Além do mais, essas memórias falsas persistiram ativas depois que os animais acordaram, afetando completamente o comportamento do animal. Um artigo sobre o estudo foi publicado na revista científica Nature Neuroscience, em fevereiro deste ano.  

Segundo seus autores, o estudo está ajudando a promover nossa compreensão do papel desempenhado pelo sono na consolidação da memória e poderia talvez um dia levar ao desenvolvimento de maneiras de tornar os seres humanos menos suscetíveis a falsas memórias, o que pode ser um problema sério em casos de cunho penal, por exemplo.

IMPLANTANDO AS FALSAS MEMÓRIAS
A fim de enganar o cérebro dos animais, os pesquisadores inseriram eletrodos que foram projetados para direcionar duas áreas diferentes: um componente crítico de nosso sistema de recompensa, o feixe medial do prosencéfalo (MFB, na sigla em inglês), e parte do nosso aprendizado e memória, o hipocampo. Mais especificamente, a parte desta última região é conhecida por conter um neurônios chamados internacionalmente como “Place Cell”. Estes nervos, segundo uma descoberta que ganhou um Prêmio Nobel no ano passado, são células que se ativam quando um animal está em uma localização específica no ambiente. Em combinação com outro tipo de neurônio, essas células constituem o “GPS interno” do nosso cérebro, que é necessário para a navegação espacial.

Para identificar estas células específicas, os pesquisadores permitiram que os animais explorassem seu ambiente de trabalho durante a gravação atividade neuronal. Depois de escolher as células que reagiam quando um rato entrou em um campo de determinado lugar desconhecido, os pesquisadores começaram a estimular a MFB, enquanto estas células estavam ativas durante a vigília. Isto conduziu à geração de uma associação positiva falsa entre uma área em particular e uma recompensa, ou experiência agradável.

Como já é sabido que os neurônios no hipocampo reproduzem as experiências do dia durante o sono, os pesquisadores continuaram a monitorar a atividade do cérebro enquanto os animais estavam dormindo. Com a ajuda de uma interface cérebro-computadorizada, eles perceberam que a MFB foi automaticamente estimulada em um lugar específico, fazendo que a célula disparasse espontaneamente. Mais uma vez, quando os animais estavam acordados, eles gastaram até cinco vezes mais tempo para explorar a área associada com a atividade das ‘Place Cells’ em comparação com os animais que receberam a estimulação aleatória MFB, sugerindo que eles tinham uma memória consciente de que algum tipo de recompensa podia ser gerada nesta localização.

Como esta técnica envolve implantes cerebrais, é altamente improvável que ele irá ser repetida em humanos. Ainda assim, os cientistas estão esperançosos de que os resultados poderiam representar um passo importante para ajudar as pessoas com determinados problemas de memória ou distúrbios mentais em que a memória desempenha um papel.

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